Seca prolongada no Nordeste desperta interesse por dessalinização
A escassez de
água, em decorrência da seca que já dura cinco anos no Nordeste, despertou o
interesse de empresas e governos para soluções de tecnologia que promovam a
dessalinização da água do mar.
No último dia 13, o governo do Ceará lançou edital para contratar
empresa responsável pela elaboração de uma planta de dessalinização na região
metropolitana de Fortaleza, com capacidade para gerar 1 metro cúbico por
segundo (m³/s) de água potável para a rede de abastecimento. Esse volume
equivale a cerca de 15% do consumo de Fortaleza.
Desde 2016, os 17 municípios da região, nos quais moram quase
metade da população cearense, são submetidos a uma tarifa de contingência para economizar água.
De acordo com o diretor da Região Nordeste, da Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Francisco Vieira Paiva,
“a dessalinização faz parte de um contexto mundial. A indústria usa a
dessalinização para processos industriais. Com relação ao consumo humano,
países semelhantes ao Brasil, com regiões [climáticas parecidas com as do]
Nordeste, têm experimentado essa tecnologia, porque é uma forma de minimizar o
impacto às populações. No Ceará, isso salvaguardaria nossos açudes”, explicou
O assunto foi tema de simpósio da Abes, na última
semana, em Fortaleza. Oportunidade em que alguns especialistas nacionais
falaram sobre os impactos das tecnologias de dessalinização na matriz hídrica
do país e também sobre reúso das águas.
Embora seja uma realidade em outros países, como
Israel e Arábia Saudita, a dessalinização ainda está em seus primeiros passos
no Brasil. Fernando de Noronha (PE) é o exemplo pioneiro de alcance público:
possui uma usina de dessalinização para consumo humano que apoia o sistema de
abastecimento da ilha, especialmente nos períodos de estiagem. O distrito
estadual possui apenas um açude, o Xaréu, além de poços.
Outras experiências são de iniciativa privada,
especialmente industrial. Sérgio Hilsdorf, gerente de aplicações e processos da
empresa Veolia, dá o exemplo de uma usina termelétrica que será implantada em
Sergipe, que vai utilizar água dessalinizada em seus processos. Ele considera
prioritário o uso das tecnologias de dessalinização para atender o consumo
humano.
Ele afirmou que “a água dessalinizada pode ser
utilizada na indústria, mas grandes plantas foram construídas com o objetivo de
fornecer água potável para a população das cidades litorâneas com problemas
crônicos de falta de chuva. Considero que lançar mão de uma técnica que não é
barata, deveria ser para uso nobre, que é o uso potável”.
Segundo o diretor da Abes no Nordeste, o uso de
água dessalinizada para abastecimento de cidades já era debatido no Ceará 15
anos atrás. Mas, à época, não havia políticas públicas para abranger a
inovação. Apesar de a ideia apenas agora começar a tomar contornos reais, Paiva
considera que o momento é ideal.
“Acredita-se, sempre, que até dia 19 de março [dia
de São José, padroeiro do Ceará] vai chover, mas vemos que a realidade não é
mais essa. A população, as indústrias e o consumo aumentam. De alguma forma, à
adesão a esta nova tendência está atrasada, mas sempre é o momento para
começar”, lembrou ele.
Fonte: Agencia Brasil
Edwirges Nogueira – Correspondente da Agencia Brasil
Edição: Stênio Ribeiro
Categoria: Agricultura, Infraestrutura, Municípios